Gestores de vários países revelam razões para conhecer a experiência brasileira de combate à pobreza. Seminário reuniu representantes de 60 nações em Brasília

Brasília, 19 de maio de 2016 – Enquanto a Guatemala se inspirou no Brasil para desenhar a maioria de seus programas sociais, a Argentina busca lições para monitorar resultados de forma mais eficiente. Já Angola tem interesse em adaptar quase todas as estratégias seguidas pelo Brasil quando se trata de proteger a população mais vulnerável.

Na última semana, o alcance das políticas sociais brasileiras no mundo ficou evidente com o número de delegações estrangeiras que vieram à Brasília para o XI Seminário Internacional Políticas Sociais para o Desenvolvimento: 42 países.

Considerando a participação de embaixadas, este número sobe para 60, o maior de todas as edições.

Realizado desde 2012 pelo Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) – agora Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário (MDSA) –  o evento permite organizar em apenas um grande encontro todas as demandas de informações e visitas de missões estrangeiras, a maioria de países da América Latina e África, mas com a presença de todos os continentes.

Entre 2011 e 2016, 455 delegações de 107 países visitaram o Brasil com o mesmo objetivo.

Por isso, a Iniciativa Brasileira de Aprendizagem por um Mundo sem Pobreza (World without Poverty, WWP) perguntou aos participantes – que durante quatro dias ganharam uma introdução teórica e prática do sistema de proteção social – o que motivava a longa viagem até aqui.

As repostas, em formato de depoimentos, demonstram que o Brasil se tornou exemplo mundial de boas práticas em várias frentes no combate à pobreza e à insegurança alimentar. Confira.

Veja também as lições do Brasil na área social, segundo gestores de outros sete países

egito

“Estou aqui para tirar proveito da experiência do Brasil com o Cadastro Único, assunto com o qual trabalho em meu país. Faz muito tempo desde que ouvi sobre ele. Podemos nos beneficiar no Egito de algo que já está maduro”.

D. Magdy Elhennawy, do Egito
Gerente-geral do Registro Nacional para Programas de Segurança Social do Ministério de Planejamento, Acompanhamento e Reforma Administrativa

 

angola

“Brasil e Angola são países irmãos que trabalham juntos em muitos processos. Em Angola, estamos em uma fase de crescimento e reconstrução do país após mais de 40 anos de guerra. Já temos 14 anos de paz e estamos construindo todo o tecido social e as infraestruturas econômicas e produtivas. A experiência do Brasil é muito mais avançada, e por isso temos muito o que aprender. Estamos a dar os primeiros passos para a construção do cadastro único de beneficiários de programas sociais. Também não temos um Sistema Único de Assistência Social. Nossos programas estão espalhados em vários departamentos ministeriais. Mas vamos ter um Centro de Assistência Social e por isso podemos aprender com o CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) e o CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social) do Brasil. É muito importante para nós ver como é que vocês aqui organizam os dois para termos uma visão de como desenhá-los em nosso país. Estamos também a desenhar o sistema de gestão da informação. Além disso, nós nunca tivemos um programa de transferência monetária, então estamos aprendendo com o Bolsa Família. São muitos pontos de interesse, não apenas um, várias aprendizagens muito ricas que vamos poder utilizar em nosso contexto.”

Teresa Quiviengale, da Angola
Diretora Nacional da Ação Social do Ministério da Assistência e Reinserção Social

 

argentina

“Em matéria de política social, o Brasil é uma referência, principalmente na área que estou coordenando, de informação, acompanhamento e avaliação de programas sociais. Há um grande interesse em aperfeiçoar e melhorar o sistema argentino, criado há alguns anos e que nos últimos tempos não melhorou ou acomodou todo o contexto social e tecnológico. A ideia é gerar informações para torná-lo uma referência para os nossos vários programas. Estamos aqui para aprender um pouco mais da experiência que o Brasil vive e viveu na construção desses sistemas de informação, acompanhamento e avaliação. Queremos aplicar uma ficha semelhante ao Cadastro Único, sobre as condições de vida para caracterizar grupos vulneráveis e adaptar o sistema todo para ver se os vários programas estão cumprindo as metas e resultados esperados.”

Soledad Cubas, de Argentina
Diretora Nacional do Sistema de Informação, Monitoramento e Avaliação de Programas Sociais (SIEMPRO)

 

guatemala

“A verdade é que a Guatemala adotou tudo que o Brasil já tinha feito. Cerca de 80% dos nossos programas sociais têm o conceito brasileiro, e vocês já os têm bastante aperfeiçoados. Temos o  cadastro único também, com o apoio das Nações Unidas. Para mim, um mundo sem pobreza é importante e a América Latina o merece. Temos um alto percentual de desnutrição crônica na Guatemala. O atual presidente se propôs a reduzir em 10 pontos percentuais esta desnutrição nos próximos quatro anos. É algo muito difícil, mas não impossível. Países como o Brasil o fizeram em muitos aspectos. Com o Bolsa Família, por exemplo. Estou certo de que podemos fazê-lo.”

José Moreno, da Guatemala
Ministro de Desenvolvimento Social

 

tunisia

“Nós reconhecemos que a experiência brasileira de proteção social é muito rica. É composta por uma infinidade de bons programas e projetos. Mas o que nos interessa é a educação, incluindo o Programa Nacional de Alimentação Escolar. Na Tunísia, temos uma tradição nesta área, uma vez que o nosso programa remonta aos anos 50. Nos últimos anos, porém, percebemos que ele está a cada dia mais estagnado. Por isso ele precisa ser renovado. Assim, nós montamos uma nova estratégia de alimentação escolar. Nós até mesmo enviamos uma equipe tunisiana ao Brasil para o Centro de Excelência contra a Fome da ONU, em 2014, durante o desenvolvimento desta estratégia. Ela foi inspirada no modelo brasileiro e começamos com dois projetos piloto. Atualmente, o programa avança e estamos aqui novamente para aprender sobre avaliação e monitoramento, porque queremos saber se estamos no caminho certo.”

Moez Boubake, da Tunísia
Chefe de gabinete do Ministério da Educação

 

peru

“O Peru tem programas de desenvolvimento social muito recentes. Então é muito importante para nós conhecer outras experiências, ainda mais sabendo que a experiência brasileira data de muitos anos. Como um país jovem neste tipo de ação, o melhor para nós é ver uma nação que já tem um programa de desenvolvimento social muito bem sustentado, para que possamos ter exemplos a seguir e aplicar de forma positiva. O que me surpreendeu e que seria uma porta muito valiosa para o nosso país é o uso do Cadastro Único. No Peru, ainda nos falta articular a informação de todos os programas de uma maneira simultânea para todos os componentes da família”.

Jessica González, de Peru
Chefe da Unidade de Recursos do Programa Nacional de Alimentação Escolar Qali Warma

Confira ainda este vídeo que resume em poucos minutos o XI Seminário Internacional Políticas Sociais para o Desenvolvimento:

Marco Prates, WWP